O simpósio “A importância da saúde mental no trabalho” teve por objetivo proporcionar o debate para uma reflexão sobre como auxiliar no desenvolvimento de relações saudáveis dentro dos ambientes de trabalho. E ajudar a perceber como identificar situações em que o funcionário precisa de algum tipo de apoio, como por exemplo o psicológico. O evento voltado às empresas clientes da Unimed Nordeste-RS e aos associados da ARH Serrana ocorreu na tarde do dia 12 de maio, no Auditório da CIC Caxias.

 

 

É preciso falar sobre o assunto

 

A primeira palestra foi apresentada pelo Dr. Arthur da Motta Lima Netto, Médico formado pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) com especialização em Psiquiatria e Medicina do Trabalho pela AMB e consultor de empresas em Saúde Mental. Ele falou, de maneira didática sobre o tema “Conexões entre Saúde Mental e Saúde e Segurança no Trabalho (SST)”. E explicou que entre os fatores de risco de adoecimento do ser humano, na questão mental, estão a genética (20% a 30%), o estilo de vida (40% a 50%), o ambiente (20%) e a assistência médica (10%).

 

Para o especialista, o adoecimento mental é causado por inúmeros fatores. Cada vez mais é preciso estudar e investir no conhecimento para que, dentro das organizações, sejam percorridos caminhos até então não desbravados para encontrar algo simples, ou seja, as saídas. “Estresse é um processo químico que na maior parte das vezes não temos controle. É quando ocorre a liberação do cortisol, por exaustão ou sobrecarga de alguns órgãos. Temos de falar desse assunto, evitar o preconceito e o tabu de que homem não vai em consultório psicológico”, ponderou o Dr. Arthur.

 

Tensão e riscos exagerados ou descontrolados ou não percebidos no trabalho, aliados aos fatores de risco para adoecimento mental, podem resultar em estresse, ansiedade, depressão, uso de substâncias psicoativas com mudanças no comportamento e nas atitudes. No pós-pandemia, estudo revela que 40% das pessoas podem ter ficado depressivas e 60% delas responderam que integrantes da família usam medicamentos. “Precisamos falar sobre saúde mental, esse é o desafio, ter ousadia para mudar”, alertou o Dr. Arthur.

 

 

Estamos atentos ao que nos rodeia?

 

A segunda palestra do Simpósio foi conduzida de forma on-line, do Rio de Janeiro, pelo Dr. Cristiano da Motta Lima, Médico do Trabalho formado pela UFRGS com especialização na Harvard Medical School, e Health & Working Environment – Leader, da Equinor. Ele falou sobre “Gestão de Riscos Corporativos, Saúde e Saúde Mental: Uma visão internacional”.

 

Antes de abordar o assunto, o palestrante detalhou que muito deve ser observado quando falamos sobre saúde mental. A incerteza sobre o futuro, as necessidades mínimas do ser humano, as preocupações familiares, a carreira, o desemprego, o conflito interpessoal, enfim, especificou que precisamos conhecer o ambiente empresarial e estarmos atentos a tudo o que nos rodeia.

 

A empresa, para o Dr. Cristiano, está inserida num sistema social e é integrada por pessoas que atuam por meio de valores, tomam decisões com um propósito, com foco no resultado. Para isso, são definidas estratégias, as quais são integradas por oportunidades e riscos. Nesse contexto, a saúde constitui um risco corporativo? A resposta é sim, segundo o palestrante, pois a falta ou a existência de um processo de gestão em saúde tem efeito sobre os objetivos da organização. “Por isso é preciso entender o risco, integrado por fatores internos e externos, e aí chegamos na saúde mental”, contextualiza.

 

O Dr. Cristiano exemplifica que o ser humano não é uma máquina, a qual se aplica uma determinada pressão ou estímulo para atingir o desempenho máximo. As pessoas precisam receber um estímulo ideal, não se aproximando do máximo (considerado um sinal de alerta), evitando o adoecimento. “Por que gerir a saúde? Porque é a coisa certa a ser feita, para as pessoas que integram a empresa e para a sociedade. A construção de um ambiente saudável é responsabilidade de todos”, comentou o palestrante.

 

Desgaste físico e mental

 

Para finalizar o ciclo de palestras subiu ao palco o Dr. Rafael Fedrizzi Viezzer, Médico do Trabalho, coordenador médico do SESMT da Unimed Nordeste-RS e PCMSO da Castertech, Perito Médico Judicial e Assistente Técnico Médico em Perícias Médicas. A palestra dele abordou muitos números e teve como tema “A Saúde Mental no trabalho: um assunto urgente nas empresas”.

 

O Dr. Rafael lembrou que nosso cotidiano não se desenvolve por meio de uma linha reta, ou seja, existem oscilações. A forma como as pessoas reagem às exigências da vida, esse sobe e desce, é o que pode garantir um estado de bem-estar e saúde mental. Citou a questão do desgaste físico e mental dos profissionais da saúde, que têm acesso fácil a medicamentos. Entre 10% e 15% dos médicos praticam automedicação ou usam drogas ilícitas no decorrer da carreira.

 

Conforme dados do American Psychiatric Association, ou Associação Americana de Psiquiatria, para cada suicídio registrado existem 25 tentativas. Na classe médica, a média é de 28 a 40 casos a cada 100 mil habitantes; na população em geral é de 12,3 casos a cada 100 mil habitantes. “O pior é que muitos profissionais não procuram ajuda. Conforme levantamento da Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, 30,3% procuram ajuda voluntariamente, 53% após pressão da família e 15,6% por pressão dos colegas. A média de tempo até que isso aconteça é de quase quatro anos”, apresentou o palestrante.

 

O estresse, segundo Dr. Rafael, incita as primeiras experiências no uso de drogas no ambiente de trabalho, de acordo com dados publicados pela Revista Médica de Minas Gerais. Outras informações, estas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP): as principais patologias psiquiátricas no pós-pandemia são insônia (61%), ansiedade (43%) e depressão (40%). Todas as pesquisas envolvendo trabalhadores da classe médica.

 

Pela atuação como perito judicial, o Dr. Rafael falou também sobre a Síndrome de Burnout, que se trata de um esgotamento profissional, distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema. Causado por muitos sintomas com nexo causal, por isso é preciso que haja investigação de nexo para excluir outras possibilidades – a causa pode ser multifatorial.

 

Ele apresentou um levantamento do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que mostra que, entre 48 processos trabalhistas por dano moral que chegaram à Corte, em 13 (27%) os reclamantes alegavam ter a síndrome e 35, depressão. Do total, em 26 casos houve condenação. Entre os bancos, os maiores reclamados, a sentença máxima chegou a R$ 300 mil e, a média das indenizações ficou em R$ 53 mil. Dos 48 processos, 19 perícias apontaram inexistência de nexo, ou seja, não havia relação entre causa e consequência.

 

Por fim, o palestrante defendeu o autoconhecimento para manter ou conquistar uma boa saúde mental, dormindo bem, tendo uma rotina, praticando atividades físicas regulares, mantendo uma alimentação adequada e consultando seus médicos regularmente. “Permita-se relaxar e não fazer nada, e o mais importante, não hesite em procurar ajuda”, recomendou.

 

A relação com o trabalho

 

Por fim, um debate entre os palestrantes foi mediado por Roque Puiatti, Engenheiro Mecânico de Segurança do Trabalho, Mestre em Segurança de Processos pela Universidade de Sheffield – Inglaterra e consultor da Saúde Ocupacional da Unimed Nordeste-RS; com participação da Psicóloga Débora Brandalise Bueno, Founder da WOEN Pessoas e Trabalho e vice-presidente de Desenvolvimento da ARH Serrana. Na ocasião, dúvidas e contribuições dos presentes foram comentadas.

 

A questão multidisciplinar do tema do Simpósio foi o principal fator que desencadeou comentários. Para Débora, passamos a maior parte do nosso tempo no trabalho, por isso precisamos entender como é a nossa relação com o labor. “Não se trata de um peso individual, mas coletivo, e aí está incluído o trabalho. Os fatores de riscos físicos, químicos, biológicos e de acidentes sempre existiram, agora temos os fatores de riscos mentais, o que carece de atenção, pois as pessoas estão adoecendo”, comentou a psicóloga.

 

Antes do encerramento, os palestrantes sugeriram a implantação de um programa que aborde a saúde mental nas organizações, tema que deve começar pela direção das empresas, vir do topo. Após, é preciso conhecer as pessoas e necessidades de acordo com o nível da companhia e dos trabalhadores, com o propósito de ser o mais assertivo possível.

 

Ao término do Simpósio os participantes confraternizaram num coquetel, quando puderam trocar mais informações sobre o que fora discutido durante a tarde.

 

Confira alguns registros: